Os músicos estão habituados a fazer complicadas operações físicas e mentais, tais como converter notas musicais em complicados movimentos de dedos ou de mão, ou decorar longas frases musicais. Tocar um instrumento requer, então, uma interacção complexa entre mecanismos neuronais, que ainda não são bem conhecidos. Em adição, poucos foram os estudos até hoje feitos no sentido de relacionar estas habilidades com partes do cérebro em específico. Porém, nos estudos que já foram feitos, observaram-se diferenças substanciais entre cérebros de músicos e de não-músicos.
Numa das experiências, Gaser e Schlaug compararam o cérebro 20 músicos profissionais com 20 músicos amadores e 40 não-músicos. Um músico profissional foi considerado todo aquele cuja profissão fosse ser músico, professor de música, ou que fosse aluno de conservatório de nível elevado. Definiu-se músico amador como aquele que praticasse um instrumento musical, mas que não fosse músico profissional. Um não-músico foi considerado todo aquele que nunca tivesse aprendido um instrumento.
Através de ressonância magnética, verificou-se uma concentração maior de massa cinzenta nos cérebros dos músicos nas áreas motora, pré-motora, parietal superior, temporal inferior e no cerebelo, entre outras.
Havendo uma correlação entre as funções desempenhadas por estas áreas e as técnicas envolvidas no tocar dum instrumento, estes resultados sugerem uma estreita relação entre as habilidades especializadas dos músicos e certas partes do cérebro.
Noutro estudo, pretendeu-se comparar o volume do corpus callosum (CC) de músicos e não-músicos. O CC é uma estrutura localizada entre os dois hemisférios, composta por milhões de projecções axónicas que fazem a ligação entre o hemisfério esquerdo e o direito. A hipótese colocada foi a de que o CC de músicos teria maior volume do que o de não-músicos, visto que os primeiros necessitam de ter uma coordenação precisa de ambos os dedos para tocarem o seu instrumento. Apesar de esta estrutura ser das últimas a maturar no cérebro, só se verificaria um aumento maior do que o esperado se o músico tivesse iniciado os seus estudos ainda criança.
Para tal, Lee, Chen e Schlaug seleccionaram uma amostra de 56 músicos (28 homens e 28 mulheres) e 56 não-músicos, todos destros. Os resultados dados pela máquina de ressonância magnética revelaram que os músicos homens apresentavam um CC de maior volume que os não-músicos, mas que não havia diferença significativa entre as mulheres.
Conclui-se assim que existe, para os homens, uma relação directa entre o volume do CC em músicos e não-músicos, mas que nas mulheres essa relação não se verifica, facto cuja razão ainda não é conhecida.
Referências:
Gaser, C., and G. Schlaug. 2003. Gray matter differences between musicians and nonmusicians. Annals of the New York Academy of Sciences 999:514-517.
Lee, D. J., Y. Chen, and G. Schlaug. 2003. Corpus callosum: musician and gender effects. NeuroReport 14:205-209.
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