Dentro do útero, rodeado por líquido amniótico, o bebé ouve sons. Ouve o batimento cardíaco da mãe, umas vezes mais acelerado, outras vezes mais brando, e também ouve música, como descobriu Alexander Lamont na Universidade de Keele, no Reino Unido, em 2001. Na sua dissertação “Infants’ preferences for familiar and unfamiliar music: A socio-cultural study”, Lamont descreve a experiência que levou a cabo para chegar a esta conclusão.
O sistema auditivo do feto está a funcionar plenamente vinte semanas após a concepção. Na experiência de Lamont, as mães reproduziram repetidamente uma única peça musical para os seus bebés nos últimos três meses de gestação. Obviamente que os bebés também ouviam todos os outros sons do dia-a-dia das mães, incluindo outras músicas, através do filtro aquático do líquido amniótico do útero, mas cada bebé foi regularmente exposto a uma peça musical particular. As peças musicais incluíam música clássica (Mozart, Vivaldi), o Top 40 (Five, Backstreet Boys), reggae (UB40, Ken Boothe) e música do mundo (Spirits of Nature).
Depois de os bebés nascerem, as mães não tinham autorização para lhes passar as músicas da experiência. Um ano depois, Lamont reproduziu-lhes a música que tinham ouvido no útero e uma outra peça musical com o mesmo estilo e andamento. As preferências foram apuradas por uma técnica conhecida por procedimento da orientação condicionada da cabeça: dois altifalantes são colocados num laboratório e o bebé é posto (em regra ao colo da sua mãe) entre os dois altifalantes. Consoante o altifalante para o qual o bebé olhar, começa a tocar uma ou outra música. Rapidamente o bebé aprende que consegue controlar o que está a ser tocado olhando para determinado sítio, isto é, aprende que controla as condições da experiência.
Quando Lamont o fez com os bebés do seu estudo, apercebeu-se que os bebés tendem a olhar durante mais tempo para o altifalante que passa a música que ouviram no útero do que para o altifalante que passa música nova, confirmando que preferem a música a que estiveram expostos na experiência pré-natal. É importante referir que um grupo de controlo de bebés de um ano, que não ouviram quaisquer das músicas, não revelou preferências e permitiu confirmar que nas músicas só por si nada havia que justificasse estes resultados. Lamont descobriu também que os bebés preferem música mais rápida e com uma batida ligeira do que música lenta.
Referências:
D. Levitin, This is Your Brain on Music: the Science of a Human Obsession (Penguin Group Inc., New York, NY, 2006).
A. M. Lamont, “Infants’ preferences for familiar and unfamiliar music: A socio-cultural study” (2001). Paper read at Society for Music Perception and Cognition, Kingston, Ont., 9 Aug 2001.
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